“Autoestima é a pedra angular da felicidade.” A expressão é do cirurgião plástico Samuel Domingues. Atendendo em uma clínica homônima na capital, o médico trabalha na área há três décadas. O profissional acompanhou o desenvolvimento da especialidade desde quando as técnicas eram elitizadas, passando pelo movimento de inclusão ao acesso, até o boom dos procedimentos. Atualmente, o profissional nota que o recurso tornou-se perigoso, devido à banalização da demanda.
Em entrevista à coluna Claudia Meireles, Samuel é categórico ao afirmar que nem todas as pessoas têm a capacidade de se submeter a uma cirurgia plástica. “Física e psicologicamente, às vezes, totalmente desnecessário”, alega. Ao longo da carreira, o médico já recusou inúmeros pacientes. Antes de começar mais uma intervenção, o expert segue um protocolo a fim de construir uma indicação ideal. “Preciso operar quem eu conheço realmente bem”, defende.
Pilares
Segundo o cirurgião, três pilares devem ser respeitados pelo profissional e paciente. Primeiro, a indicação técnica, ou seja, qual método dentro da especialidade consegue atender o objetivo de harmonizar o corpo ou o rosto. Em seguida, a questão pessoal, conforme explica o médico: “Quão importante o procedimento é para a pessoa?”. O terceiro quesito consiste na segurança, por exemplo, a avaliação física do indivíduo e o local onde será realizada a operação, para que ela ocorra sem riscos.
Na lista de recusas do médico, constam jovens e “pessoas amarguradas”. De acordo com o especialista, o pensamento do paciente influencia no resultado da plástica: “Cerca 80% do que acontece, nós fazemos acontecer. Os 20% é a interação com o restante em volta. Nós construímos o universo em torno. Quando repetimos determinado raciocínio, ele se solidifica no cérebro e cria vias facilitadoras. A amargura desenvolve situações para se manter em alta”.
Nessas situações, o cirurgião verifica que o paciente não ficará satisfeito com o procedimento perfeito, por estar viciado no ressentimento. Nos últimos anos, Samuel notou o aumento do fluxo de jovens no consultório, alguns com indicações precisas – outros, não. Durante a etapa de análise do paciente, o profissional costuma fazer a seguinte pergunta: há quanto tempo pensa em fazer uma cirurgia plástica? E, então, ele avalia caso a caso.
Segurança
Samuel não opera no consultório – somente em hospitais de excelência, a fim de evitar e minimizar, ao máximo, os riscos. Ao recorrerem à expertise do médico, a maioria dos pacientes deseja principalmente mudar algo no rosto. “Nos últimos 20 anos, fiz de quatro a cinco cirurgias plásticas faciais por semana, justamente por conseguir resultados naturais. Não pode parecer que a estrutura foi tocada, tem de ficar limpa e sem sombras”, destaca.
No consultório, é frequente que pacientes pronunciem a seguinte afirmação: “Eu queria aproveitar a cirurgia para fazer outro procedimento”. Como forma de respeito e ética profissional, Samuel costuma responder com a sentença: “Não conjugo esse verbo”. O médico ressalta que, quanto menor a duração do ato operatório, mais seguro ele é – realizar várias cirurgias ao mesmo tempo, portanto, pode ser perigoso.
Ao optar pela cirurgia plástica, o paciente está sujeito a condições arriscadas. Por esse motivo, o expert só realiza as intervenções tendo todo o aparato necessário para prevenir contra infecções, tromboembolismo e deambulação precoce. Exames, massageadores e drenagens linfáticas são fundamentais no pós-operatório, além da atenção do médico antes, durante e após o procedimento. “As três etapas têm o mesmo peso”, considera.
Em relação aos avanços, o médico acredita que ocorreu um “salto”. Materiais, fios, próteses e técnicas estão menos invasivos. “Hoje, os procedimentos são mais próximos do seguro, em comparação com os últimos 20 e 30 anos”, esclarece. Uma das provas da evolução está no pós-operatório, que diminuiu de um mês para 15 dias. Especialistas recomendam que o paciente caminhe no terceiro dia após se submeter a intervenções cirúrgicas.
O expert julga que a genética e as células-tronco serão o futuro da cirurgia plástica. “Sobrará poucas tarefas para o profissional fazer”, admite.
Doença do silicone
Na avaliação de Samuel Domingues, as palavras medicina e moda não deveriam se encontrar, entretanto, a “cirurgia plástica tornou-se factível de ser envolvida por tendências”. Ele cita como exemplo o boom das mamas gigantes na década de 1990 e anos 2000. “Movidas pelas moda”, as mulheres recorreram ao silicone. Agora, o profissional julga existir o interesse generalizado pela redução das próteses e a retirada definitiva, o chamado explante. O seio é reconstruído por meio de uma técnica que usa tecido glandular.
De acordo com o médico, um “evento” abalou a área da cirurgia plástica, em outras palavras, a doença do silicone. “Não podemos chamar de alergia, mas uma reação orgânica que faz com que a pessoa produza patologias ainda não decifradas. São problemas reumáticos e imunológicos. Nos pegou desprevenidos, pois não era o habitual com as antigas próteses, ocorreu devido uma mudança na capa protetora”, garante o expert.
Nas três décadas de carreira, Samuel atuou em dois casos da síndrome de ASIA, designação dada à doença do silicone. O cirurgião defende trocar a tecnologia com a qual se produz a prótese. “Sou a favor de mudar o tipo de substância usada, pois é complicado mantê-la, em razão da doença”, frisa o médico.
fonte: Metrópoles, escrita por Marina Ferreira e Claudia Meireles