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Estima-se que 1,7 bilhão de pessoas, 22% da população mundial, tenha pelo menos uma condição de saúde considerada fator de risco para a Covid-19. A descoberta é resultado de uma pesquisa conduzida por especialistas do Reino Unido e dos Estados Unidos, publicada no The Lancet na segunda-feira (15).

Os autores utilizaram dados de prevalência de doenças do Estudo Global de Cargas de Doenças, Lesões e Fatores de Risco (GBD) de 2017; estimativas da população segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) para 2020; e a lista de fatores de risco para a Covid-19. A equipe analisou as informações de 188 países em todo o mundo, considerando variações como faixa etária e sexo.

"À medida que os países saem da quarentena, os governos estão procurando maneiras de proteger os mais vulneráveis a um vírus que ainda está circulando", afirmou Andrew Clark, coautor do estudo, em declaração à imprensa. "Esperamos que nossas estimativas forneçam pontos de partida úteis para projetar medidas protetivas para aqueles com maior risco de [quadros] graves da doença."

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os fatores que podem levar ao desenvolvimento de quadros graves de Covid-19 incluem doenças cardiovasculares, doenças renais crônicas, diabetes e doenças respiratórias crônicas. O artigo estima que, globalmente, menos de 5% das pessoas com menos de 20 anos tenha pelo menos um desses problemas de saúde. Já entre aqueles com 70 anos ou mais, a taxa pode ser maior do que 66%. Entre a população em idade ativa (15 a 64 anos), a estimativa é de 23%.

Os cientistas ressaltam, entretanto, que nem todos os que estão no "grupo de risco" desenvolveriam quadros graves da infecção pelo novo coronavírus. De acordo com eles, apenas 4% da população mundial (349 milhões de 7,8 bilhões de pessoas) precisaria de hospitalização se infectada.

Método
De acordo com os cientistas, a metodologia foi ajustada para considerar aqueles com alto risco usando taxas de hospitalização por infecção por Covid-19 em diferentes países. O grupo também considerou diferenças importantes entre as populações do mundo, como o número de jovens em comparação com o de pessoas mais velhas.

Por exemplo, a proporção de pessoas com um ou mais problemas de saúde varia de 16% na África (283 milhões de pessoas em 1,3 bilhão) a 31% na Europa (231 milhões em 747 milhões). "A parcela da população com risco aumentado de Covid-19 grave é geralmente mais baixa na África do que em outros lugares devido às populações muito mais jovens do país", analisou Clark.

Contudo, considerar a prevalência de outras doenças em algumas partes do mundo é crucial para uma compreensão mais abrangente da pandemia — em Lesoto, por exemplo, o número de pessoas com HIV é muito mais alto que em outros países, como o Níger. Como explicou Clark, "uma proporção muito maior de casos graves pode ser fatal na África do que em outros lugares" por causa destas questões.

Os autores fizeram questão de ressaltar que divergências socioeconômicas e diferenças étnicas não foram consideradas no artigo. Ainda assim, Nina Schwalbe, professora da Escola de Saúde Pública da Universidade de Columbia, que não participou da pesquisa, acredita que estudos como este sejam importantes para o desenvolvimento de políticas públicas.

"Uma maior compreensão dos fatores de risco, incluindo os efeitos dos determinantes sociais e sua interação, oferece uma oportunidade de direcionar estratégias de mitigação e ajuda a dissipar o equívoco popular de que todos correm o mesmo risco de doenças graves", escreveu ela em um comentário sobre a análise publicado no The Lancet. "É preciso aumentar o acesso aos serviços de saúde, incluindo cuidados paliativos, para aqueles que já são socialmente vulneráveis, fornecendo apoio econômico."

fonte: Revista Galileu